terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Autor do Mês de Fevereiro: Almeida Garrett

Quem sou eu? – Almeida Garrett
(1799-1854)
(Autobiografia Inventada)
Nasci no Porto, mas criei-me, em Gaia, na liberdade da Quinta do Sardão, pertença do meu avô materno, em Oliveira do Douro. Essa existência livre acabou por marcar e definir todo o rumo da minha vida. A adolescência passei-a na Ilha Terceira (Açores) e foi por essa altura que tive a minha primeira experiência amorosa com Luísa Midosi, que tinha 14 anos e foi a minha primeira mulher – casámos em 1822.
Em 1816 mudei-me para Coimbra para estudar direito. Deixei-me envolver pelo espírito aventureiro e instável da academia e aí escrevi os meus primeiros textos, nomeadamente o Retrato de Vénus, que foi considerado um atentado ao pudor e, por isso, fui acusado de imoral. A minha irreverência e a ideologia libertária envolveram-me diretamente nas lutas liberais. Participei nos confrontos contra os miguelistas ou legalistas, opositores à nova carta constitucional. Após o golpe da Vilafrancada fui forçado ao exílio em Inglaterra. Este país era, já em 1823, um exemplo de liberdade e cidadania. Amadureci os meus ideais políticos e descobri Shakespeare, Walter Scott e outros autores. Visitei também castelos feudais e ruínas de igrejas e abadias góticas, vivências que iriam, definitivamente, influenciar as minhas opções literárias.
Em 1824 prossegui o meu exílio em França. Os dois anos seguintes viram nascer duas obras emblemáticas do romantismo: Camões e D. Branca. Em 1826 consegui regressar a Portugal e tive uma experiência jornalística, dirigindo o diário O Português e o semanário O Cronista.

1828 foi um ano dramático: regressou D. Miguel, o rei absolutista e, por isso, fui forçado novamente ao exílio, em Inglaterra. Além disso, perdi a minha primeira filha quase recém-nascida. Apesar destes infortúnios, publiquei a Adozinda. Por esta altura as vozes liberais em Portugal eram cada vez mais fortes e originaram a revolta. Saído de Inglaterra, participei no Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto (1832 e 33); acontecimentos que marcaram o início do fim do absolutismo em Portugal. Com a paz assegurada e com a criação da Carta Constitucional, dediquei-me, então, à vida pública e cultural. Participei nas Cortes e os meus discursos centraram-se no fomento de um Portugal mais progressista. Em 1843 realizei a famosa viagem de Lisboa ao Vale de Santarém, que serviu de inspiração para a novela Viagens na Minha Terra. Na cultura criei o Conservatório de Arte Dramática, a Inspecção-Geral dos Teatros, o Panteão Nacional e o Teatro Normal (actualmente, Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa). Mais do que construir um teatro, procurei, sobretudo, renovar a produção dramática nacional segundo os cânones já vigentes no estrangeiro. Assim entreguei-me de corpo e alma à produção de peças de teatro, nomeadamente, O Alfageme de Santarém, Um Auto de Gil Vicente, Frei Luís de Sousa (1843) e Falar Verdade a Mentir.         
Depois, com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, afastei-me da vida política, apesar de ainda ter criticado, veementemente, a proposta de lei da imprensa, conhecida por “lei das rolhas”. Regressei à vida política em 51, na altura da Regeneração, e aceitei o título de Visconde e o cargo de ministro.
Para a minha história pessoal e íntima, contam-se as intensas relações amorosas. Depois da separação de Luísa Midosi (1835), iniciei uma relação com Maria Adelaide Pastor. Permanecemos juntos até à sua morte em 1841. Morreu, mas deixou-me a minha filha Maria Adelaide… Depois, em 1846 experimentei novamente o amor com Rosa de Montufar Infante, conhecida por Viscondessa da Luz, que me irá acompanhar até ao fim dos meus dias.

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