terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Autor do Mês de Janeiro: José Luís Peixoto

Quem sou eu
José Luís Peixoto
(1974)
(Autobiografia Inventada)

Comecei a escrever aos dezasseis anos e publiquei o primeiro texto no inimitável suplemento do DN Jovem e aí comecei a aprender a comunicar através da escrita e percebi o quanto isso poderia ser importante para mim. Nessa altura, decorria o ano de 1990 (nasci em 1974, na aldeia de Galveias, concelho de Ponte de Sor), nunca ponderara a hipótese de viver da escrita. Durante o ensino secundário, no Alto-Alentejo, contactei com a poesia de autores que ainda hoje são grandes referências para mim: Fernando Pessoa e seus heterónimos, Rui Belo — um poeta às vezes injustamente esquecido — e Herberto Hélder. O romance surgiu um pouco mais tarde e houve autores que tiveram uma grande importância, caso de António Lobo Antunes, Miguel Torga ou José Saramago. Entrei, depois, no Curso de Línguas e Literaturas Modernas (variante de Inglês-Alemão) na Universidade Nova de Lisboa e aí comecei a ver as letras e os livros através de um olhar mais pessoal. Após o fim do curso ainda trabalhei (pouco tempo) como professor – primeiro em Cabo-Verde, depois em Portugal, mas, em 2000, tudo se precipitou. Às minhas custas, publiquei Morreste-me (obra que escrevera nos anos anteriores); imediatamente a seguir, surgiu o romance Nenhum Olhar, que seria distinguido com o Prémio José Saramago. A partir daqui comecei a viver da escrita, porque é ela que me satisfaz e me completa. Escrevo baseado naquilo que conheço, porque não posso escrever sobre aquilo que não conheço. Mas isso não quer dizer que essa escrita seja exactamente um reflexo literal do que acontece. Tem é que ser certamente sobre aquilo que eu sei, e aquilo que eu sei é aquilo que eu vi ou aquilo de que eu, de alguma maneira, tomei conhecimento. Nesse sentido, acaba sempre por ser autobiográfico. Foi assim que acabou de nascer o meu último livro Abraço, obra assumidamente de memórias.


Obra
Ficção
            Nenhum Olhar
2007 - Hoje Não (revista Sábado)
                            Cal
2011 – Abraço (Memórias)
Poesia
2001 - A Criança em Ruínas
2002 - A Casa, a Escuridão
2008 - Gaveta de papéis
Teatro
2006 - Anathema (estreada em Paris).
2007 - À Manhã (estreada no Teatro São Luiz)
2007 - Quando o Inverno Chegar (Teatro São Luiz)

Textos para músicas 
2008 - Orfeu e Eurídice (uma adaptação)

Prémios 
Prémio Cálamo Otra Mirada, (Saragoça, Espanha),  2007.




Cemitério de pianos

Numa Lisboa sem tempo, entre Benfica e o centro, nascem, vivem, sonham, amam, casam, trabalham e morrem as personagens deste livro. No ventre de uma oficina de carpintaria aninha-se o cemitério de pianos, instrumentos cujo mecanismo, à semelhança dos seres que os rodeiam, não está morto, encontrando-se antes suspenso entre vidas. Exílio voluntário onde se reflecte, se faz amor, lugar de leituras clandestinas, espaço recatado de adúlteros, pátio de brincadeiras infantis e confessionário de mortos, é o espaço onde se encadeiam gerações.

Os narradores – pai e filho –, em tempos diferentes, que se sobrepõem por vezes, desvendam a história da família, numa linguagem intercalada de sombras e luz, de silêncio e riso, de medo e esperança, de culpa e perdão. Contam-nos histórias de amor, urgentes e inevitáveis, pungentes, nas quais se lê abandono, violência doméstica e faltas nem sempre redimidas que, no entanto, acabam por ser resgatadas pelo poder esmagador da ternura e dos afectos. Falam-nos de morte, não para indicar o fim, mas a renovação, o elo entre as gerações e a continuação: o pai – relação entre dois Franciscos, iguais no nome e no destino, por um gerado, do outro genitor – nasce no dia da morte desse primeiro Lázaro; o filho, neto do seu homónimo, morre no dia em que a sua mulher dá à luz.

José Luís Peixoto oferece-nos um texto mágico, no qual se cruzam, numa interacção fluida, diálogos cúmplices com a grande tradição da literatura portuguesa e universal.

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