Quem sou eu
José Luís Peixoto
(1974)
(Autobiografia Inventada)
Comecei a escrever aos dezasseis anos e publiquei o primeiro texto no inimitável suplemento do DN Jovem e aí comecei a aprender a comunicar através da escrita e percebi o quanto isso poderia ser importante para mim. Nessa altura, decorria o ano de 1990 (nasci em 1974, na aldeia de Galveias, concelho de Ponte de Sor), nunca ponderara a hipótese de viver da escrita. Durante o ensino secundário, no Alto-Alentejo, contactei com a poesia de autores que ainda hoje são grandes referências para mim: Fernando Pessoa e seus heterónimos, Rui Belo — um poeta às vezes injustamente esquecido — e Herberto Hélder. O romance surgiu um pouco mais tarde e houve autores que tiveram uma grande importância, caso de António Lobo Antunes, Miguel Torga ou José Saramago. Entrei, depois, no Curso de Línguas e Literaturas Modernas (variante de Inglês-Alemão) na Universidade Nova de Lisboa e aí comecei a ver as letras e os livros através de um olhar mais pessoal. Após o fim do curso ainda trabalhei (pouco tempo) como professor – primeiro em Cabo-Verde, depois em Portugal, mas, em 2000, tudo se precipitou. Às minhas custas, publiquei Morreste-me (obra que escrevera nos anos anteriores); imediatamente a seguir, surgiu o romance Nenhum Olhar, que seria distinguido com o Prémio José Saramago. A partir daqui comecei a viver da escrita, porque é ela que me satisfaz e me completa. Escrevo baseado naquilo que conheço, porque não posso escrever sobre aquilo que não conheço. Mas isso não quer dizer que essa escrita seja exactamente um reflexo literal do que acontece. Tem é que ser certamente sobre aquilo que eu sei, e aquilo que eu sei é aquilo que eu vi ou aquilo de que eu, de alguma maneira, tomei conhecimento. Nesse sentido, acaba sempre por ser autobiográfico. Foi assim que acabou de nascer o meu último livro Abraço, obra assumidamente de memórias.
Obra
Ficção
2011 – Abraço (Memórias)
Poesia2001 - A Criança em Ruínas
2002 - A Casa, a Escuridão
2008 - Gaveta de papéis
Teatro Prémio Cálamo Otra Mirada, (Saragoça, Espanha), 2007.
Prémio Daniel Faria, 2008.
Os narradores – pai e filho –, em tempos diferentes, que se sobrepõem por vezes, desvendam a história da família, numa linguagem intercalada de sombras e luz, de silêncio e riso, de medo e esperança, de culpa e perdão. Contam-nos histórias de amor, urgentes e inevitáveis, pungentes, nas quais se lê abandono, violência doméstica e faltas nem sempre redimidas que, no entanto, acabam por ser resgatadas pelo poder esmagador da ternura e dos afectos. Falam-nos de morte, não para indicar o fim, mas a renovação, o elo entre as gerações e a continuação: o pai – relação entre dois Franciscos, iguais no nome e no destino, por um gerado, do outro genitor – nasce no dia da morte desse primeiro Lázaro; o filho, neto do seu homónimo, morre no dia em que a sua mulher dá à luz.
José Luís Peixoto oferece-nos um texto mágico, no qual se cruzam, numa interacção fluida, diálogos cúmplices com a grande tradição da literatura portuguesa e universal.
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