Quem sou eu? – Francisco Moita Flores
(Autobiografia inventada)
Desde que me recordo de ser gente que gosto de observar tudo o que me rodeia, especialmente de observar a vida e toda a energia que ela tem.
Venho de uma família pobre de camponeses. Vivíamos num monte, na estrada que vai de Moura para Barrancos e para a Amareleja. Cedo aprendi a gostar de ler e lia por causa das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Trouxe do Alentejo um sentido de liberdade muito grande. A minha escola tinha o maior recreio do mundo. Quando saíamos da aula tínhamos o monte à nossa frente, um ribeiro ao lado, laranjais, caminhos enormes. Esse sentimento de liberdade, que era demorado, que não tinha automóveis, que não tinha medos, ficou-me como uma marca distintiva. Essa fome de liberdade. A minha juventude foi marcada pelos estudos (estudei em Moura até aos quinze anos. Depois, Beja.) e pelo 25 de Abril. Tinha vinte e dois anos e muitos sonhos. Vivia em Lisboa, onde concluí o bacharelato em Biologia, já em 1975. Neste ano tive uma breve, mas intensa, experiência no ensino secundário. Esta promissora carreira foi interrompida para abraçar uma outra, a da polícia e o mundo da investigação. Sempre gostei de investigar, de questionar, de mexer as águas. Entrei, assim para a Polícia Judiciária e pertenci a brigadas de furto qualificado, assalto à mão armada e homicídios, onde permaneci até 1990. Contactei de perto com a criminalidade violenta e vi quanto a vida, às vezes, se aproxima terminalmente da morte. Dediquei-me novamente ao ensino, mas em 92, estava novamente na polícia para proceder a estudos e avaliações do movimento criminal. Era um trabalho mais de assessoria e secretaria, que me proporcionou um conhecimento mais aprofundado do fenómeno policial e da própria criminalidade. Este ambiente, mais calmo, permitiu estudar, mais e sempre. Assim, licenciei-me em História, e doutorei-me pelo Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Depois, fiz Sociologia, especializando-me em Sociologia Urbana, e mais tarde em Criminologia no Instituto de Criminologia da Lausanne e depois na Sorbonne, onde acabei por lecionar.
Entretanto e simultaneamente, o gosto pela leitura e pelos livros levaram-me, quase num imperativo, numa obrigação, à escrita. Gosto de o fazer com paixão e o que escrevo resulta essencialmente de dois fatores – da vida vivida e da vida dos livros que li e estudei. Por isso, tenho escrito um pouco de tudo: ensaios, crónicas, romances, guiões para filmes. Já agora, participei no programa televisivo Casos de Polícia, programa que teve (penso) o mérito de aproximar a vida dos polícias e da investigação policial da vida do comum das pessoas. Daqui até a vida pública ativa foi um passo. Aceitei o apoio de muitas pessoas que me encorajaram a dar a cara e a contribuir pelo bem comum. Por isso, como independente integrei as listas de candidatos às autarquias. Assim, de um dia para o outro vi-me à frente da cidade de Santarém, trabalho que exerço com espírito e a dedicação que sempre tive em tudo.
Atualmente e além do trabalho na autarquia de Santarém, dedico-me ao que mais gosto, ao que me dá mais prazer – o fazer dos livros.
Tenho aqui algo que gostaria de dizer: “Às vezes, quando me deparo com pessoas belicosas, sobretudo as mais jovens, não há paciência... porque... a morte cheira mal, sabem? Os cadáveres cheiram mal. O que nos afasta da morte é o caminho que nos pode dar felicidade e permite que a gente se encontre de uma forma amistosa. (…) Aprendi uma coisa decisiva: não podemos perder um minuto da nossa vida, porque tudo é rápido e efémero. Devemos tentar fazer que a vida seja um minuto de construção de coisas que agradem aos outros e a nós também. A nossa relação com quem nos rodeia tem de ser pautada por aquilo que a morte nos tira: o toque com o outro, o corpo. A relação com o corpo. Morrer não é fechar os olhos e parar o coração. Morrer é a ausência do abraço e das palavras. Isso é que é morrer.”
OBRA:
Guiões
- 1985 - Morte D'Homem
- 1994 - Desencontros
- 1996 - Filhos do Vento
- 1996 - Polícias
- 1997 - Ballet Rose
- 1998 - Esquadra de Polícia
- 1999 - A Raia dos Medos
- 1999 - Capitão Roby
- 2000 - Conde D'Abranhos
- 2000 - Alves dos Reis
- 2001 - O Processo dos Távoras
- 2002 - Lusitana Paixão
- 2004 - A Ferreirinha
- 2004 - João Semana
- 2005 - Pedro e Inês
Obras literárias
- Bastardos
- Polícias sem História
- Os 7 Pecados Mortais (obra coletiva)
- Filhos da Memória do Vento
- Os Ballet Rose
- O Carteirista que Fugiu a Tempo
- Não Há Lugar para Divorciadas
- Em Memória de Albertina, que Deus Haja!
- A Fúria das Vinhas (2007)
- O Sangue e a Honra
- Mataram o Sidónio! (2010)
- Maresia do Mar e outras histórias para aprender
- A Opereta dos Vadios (2011)
- Cemitérios de Lisboa - Entre o real e o imaginário
- Os Mortos das nossas Vidas
- As Mortes de Antero de Quental
- A Autonomia Republicana Federal em 1880
- Violência e Primórdios da Investigação Criminal
- Cândido dos Reis: Exame balístico de um suicídio
- A Morte de Sidónio Paes e prova material
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